Os acolhidos recebem quatro refeições ao dia, roupas limpas e colchões, mas precisam entrar em uma escala de horário para higiene pessoal, já que banho quente é limitado
O maior abrigo para famílias afetadas pelas enchentes da zona norte de Porto Alegre, o Centro Vida, no bairro Rubem Berta, conta com cerca de 700 pessoas, entre adultos, crianças e idosos, que estão convivendo em um grande galpão e tendo que se adaptar a uma nova realidade. Nesta segunda-feira (13), equipes de reportagem estiveram no local e acompanharam parte da rotina dessa população.
A organização do espaço conta com o trabalho da Adra Brasil, agência humanitária com experiência internacional ligada à Igreja Adventista. A ONG já prestou trabalhos em crises recentes como na Venezuela e
Ucrânia.
Coordenador regional da agência, Cristiano Freitas está à frente de quatro grandes abrigos na Capital, entre eles o Centro Vida. Em 2019, trabalhou na crise migratória de venezuelanos ao Brasil.
– Aqui a situação é pior porque pegou todo mundo de surpresa. Na Venezuela, eram muitas famílias, muitas tinham casa, mas não tinham o que comer e buscavam novas oportunidades. Estavam tranquilas. Conseguimos ajudar milhares de pessoas, encaminhando para empregos, pagando três meses de aluguel – explica o voluntário.
O ginásio lotado do Centro Vida remete a cenas de um abrigo para refugiados de guerra. No chão, colchões estão posicionados lado a lado, com poucos centímetros de distância. A maior parte dos abrigados é composta por moradores de bairros como Sarandi, Anchieta e Navegantes. Venezuelanos e Haitianos estão entre eles.
O principal desafio para organizar a convivência envolve questões sanitária e de lazer. Segundo Freitas, atualmente o Centro Vida possui apenas três chuveiros com água quente. Os demais sofrem com a falta de pressão da água, oferecendo apenas banhos gelados.
– Estamos longe do ideal, estamos apenas sobrevivendo – avalia.
Para viabilizar o banho de 700 pessoas com apenas três chuveiros, uma escala de horários, das 8h às 22h, foi organizada, primeiro, para mulheres e crianças, depois, para os homens. Sempre há fila.
Pessoas acolhidas no Centro Vida destacam a oferta de quatro refeições ao dia: café da manhã, almoço, café da tarde e janta. Dormir, no entanto, tem complicações. Apenas parte das luzes é apagada por volta da meia-noite.
– Aqui não tem como dormir, por causa da luz. São três da manhã e está claro, tem crianças correndo – relata a venezuelana Luz Ordones, que, há dois anos em Porto Alegre, morava com o marido e quatro filhos em uma casa que a família tinha comprado no bairro Sarandi.
Sem contar com lavanderia, resta aos voluntários distribuírem novas peças de roupas diariamente. As sujas são armazenadas para o momento que for possível lavar. Peças encardidas após muito uso ssão descartadas.
Não há relatos de abusos ou violência no local, ao contrário de queixas sobre furto de celulares e carregadores. A reportagem testemunhou um episódio e a ação da segurança privada. Um homem que não usava a pulseira de identifição do abrigo foi imobilizado e retirado à força. Testemunhas disseram que ele vinha levando água e doações para vender fora.
Em meio à nova rotina de convivência forçada com centenas de estranhos no maior abrigo da Zona Norte de Porto Alegre, alguns acolhidos tentam personalizar seu pequeno espaço. É a situação do casal Luiz Carlos e Selmira de Vargas, moradores do bairro Navegantes. O capricho de pequenos vasos de flores demonstram a força de vontade de manter um ambiente aconchegante.
– Ganhei ontem de dias das mães – fala Selmira, emocionada.
Como ajudar
O Centro Vida aceita a doação de bombas pressurizadoras de água, para ampliar a oferta de chuveiros quentes. Outro desejo dos organizadores é criar um espaço de lazer, com mesas de jogos, jogos de tabuleiro e uma sala de TV para entreter sobretudo as crianças.
Quem deseja colaborar consegue informações pelo site: https://adra.org.br da organização Adra Brasil.
Reportagem de GZH