Carnaval 2025: Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira desfilam neste domingo

Carnaval 2025: Unidos de Padre Miguel, Imperatriz, Viradouro e Mangueira desfilam neste domingo

Enredos sobre negritude e religiosidade afro marcam a primeira noite do Grupo Especial

Os enredos sobre negritude e religiosidade afro que predominam na maioria das escolas do Grupo Especial neste Carnaval marcam a abertura dos desfiles na Sapucaí, a partir das 22h deste domingo.

Viradouro: a campeã em busca do bi com Malunguinho

Em busca de seu quarto título do carnaval, a atual campeã Viradouro e terceira escola a entrar na Avenida aposta no enredo “Malunguinho: o mensageiro dos três mundos”. O desfile homenageará a entidade afro-indígena — que se manifesta em três falanges: na mata, na jurema e na encruzilhada — e que, em vida, como João Batista, foi uma liderança no Quilombo do Catucá, em Pernambuco.

A origem do enredo, conta Tarcísio Zanon, carnavalesco da vermelho e branca, é mística: na comemoração do título do ano passado, em um sítio em Jacarepaguá, ele viu fumaça saindo da floresta que cercava o local (mas não era fumaça de fogo). Então, Tarcísio se lembrou de uma pesquisa que tinha feito sobre “catimbó” (traduzido como “fumaça de mato”) e passou a pesquisar mais sobre o assunto, chegando ao nome de Malunguinho. Em viagens a Pernambuco, a equipe da escola visitou ao menos dez casas de jurema, em que juremeiros, através de rituais com a fumaça, indicaram que havia autorização para o desfile.

Visualmente, a Viradouro este ano provocará o delírio, numa referência ao estado de transe que se pode chegar após tomar a jurema. Por isso, as esculturas foram estudadas para passar a sensação de movimento, em conceito que Tarcísio define como “cinestaticidade”. A mistura de cores também é pensada para provocar certa alucinação. A transparência é outra aposta da escola, em referência aos cristais, usados em altares de jurema.

Além de materiais orgânicos, entre sementes e cascalhos, ressecados e pintados, fantasias e alegorias também contarão com 500 brinquedos (são bolas de plástico, moles, que lembram uma mamona). Os objetos serão doados para crianças após o carnaval. Também haverá efeitos, representando os cinco elementos. Fruto de um termo de fomento com o governo de Pernambuco, o desfile da Viradouro será fechado por 70 juremeiros pernambucanos.

A Unidos de Padre Miguel, também conhecida como Boi Vermelho da Vila Vintém, contará a trajetória da africana Iyá Nassô e do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, conhecido como o mais antigo templo afro-brasileiro ainda em funcionamento; a Imperatriz narra a visita de Oxalá ao reino de Oyó, governado por Xangô; a Viradouro vem com a história de Malunguinho; e, encerrando a noite, a Mangueira fala da contribuição do povo banto na formação do Rio de Janeiro.

Os desfiles da noite serão abertos pela campeã da Série Ouro, a Unidos de Padre Miguel (UPM). A apresentação marcará o retorno da escola ao Grupo Especial, onde havia desfilado pela última vez em 1972.

A agremiação da Vila Vintém contará a história de protagonismo de Francisca da Silva, a Iyá Nassô, ialorixá fundadora do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, na Bahia, no século XIX. Sua liderança feminina é reconhecida por ter trazido o “modelo de candomblé” para o Brasil, como explica o carnavalesco Lucas Milato, que assina o desfile com o veterano Alexandre Louzada.

Com cinco vice-campeonatos no grupo de acesso nos últimos dez anos, a UPM sempre foi reconhecida pela opulência de suas apresentações que, segundo os carnavalescos, será mantida. O carro abre-alas será “extremamente imponente, exagerado e luxuoso”, define Milato, numa referência ao Alafin, título do rei do Império de Oyó da qual Francisca era membro da corte antes de ser escravizada.

Mas também haverá mescla do luxo, em referências ao catolicismo — o candomblé nasce em volta da Igreja da Barroquinha, na Bahia —, e da rusticidade trazida de África. Um boi feito por escultores de Parintins, articulado e lançando jatos de CO2, também é uma das atrações do desfile.

Nos preparativos para a apresentação, a equipe da escola fez viagens a Salvador para reforçar os conhecimentos passados pela oralidade. Ao levarem a proposta de enredo às lideranças do Terreiro de Casa Branca, foi feito um jogo de búzios para Xangô, que rege a casa, do qual saiu a autorização para o enredo: o “alafiou”, que significa “caminhos abertos”. A revelação arrancou lágrimas dos representantes da UPM e do terreiro.

— Foi uma experiência única — garante Louzada, que foi um dos emocionados com a cena.

Em seguida, entra na Avenida a Imperatriz Leopoldinense. Uma alegoria com cinco mil litros de água vai ajudar a contar o enredo da escola de Ramos, que mergulha no mito que narra a visita de Oxalá ao reino de Oyó, governado por Xangô. Durante essa jornada, após descumprir os conselhos de um babalaô para desistir da viagem e de fazer oferendas a Exu, Oxalá enfrenta uma série de obstáculos, que resultam na prisão do orixá.

— Este mito é a origem da cerimônia das águas de Oxalá, que é praticada em inúmeros candomblés espalhados pelo Brasil — justifica o carnavalesco Leandro Vieira, sem dar detalhes de como será o carro das águas nem o que vai acontecer na Avenida, durante sua passagem.

O carnavalesco promete ainda um desfile com muito branco nas fantasias e nas alegorias. A cor, diz ele, é a de Oxalá. A agremiação de Ramos será a segunda a entrar na Marquês de Sapucaí, no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial, com o enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – Água Fresca para o senhor de Ifón”. Leandro explica um pouco do que o público verá na Avenida:

— (O público) Vai ver a construção de uma estética que é heroica, uma ideia de construção visual que é quase uma epopeia da visita de um rei a outro rei.

Segundo Leandro, esse enredo é a oportunidade de a escola celebrar algo que canta e conta pouco: a religiosidade afro-brasileira. Disse ainda que o grande ensinamento que esse itan (mito) deixa é a humildade, a virtude do respeito, mas sobretudo a ideia de que não há senhor, não há soberano que não tenha que se curvar diante de ensinamentos que são sabedorias populares.

— O mito que dá origem ao enredo é existente na tradição Iorubá e é comumente falado em cantigas do candomblé. É uma passagem da vida de Oxalá e de Xangô muito popular. O enredo é a transformação em imagens de uma saga conhecida, e surgiu de um pedido da própria comunidade, da Imperatriz, de se ver mergulhada no universo de vocabulário e estética afro-brasileiros — explica Leandro.

Fonte: Extra

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