Planalto está insatisfeito com Gleisi Hoffmann

Planalto está insatisfeito com Gleisi Hoffmann

Críticas da presidente do PT às medidas para cortar gastos repercutiram mal entre assessores de Lula

Repercutiu muito mal no Palácio do Planalto a atitude da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de assinar um manifesto de movimentos sociais e de partidos de esquerda, como PT, PSOL, PDT e PCdoB, contra o corte de gastos em áreas sociais e o ajuste fiscal que deve ser anunciado nos próximos dias pelo governo Lula.

Antes de Gleisi endossar o documento, no Palácio do Planalto já havia insatisfação com postagens dela nas redes sociais nas últimas semanas com duras críticas à equipe econômica.

A dirigente petista vinha se posicionando contra as medidas que ainda devem ser divulgadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para pessoas próximas ao presidente Lula, a posição de Gleisi “causou estranheza”, para dizer o mínimo.

Divulgado no domingo, 10, o manifesto “Mercado financeiro e mídia não podem ditar as regras para o país” gerou uma crise entre petistas. O texto dizia defender a “saúde, educação, previdência e assistência social” e criticava a “forte campanha especulativa e de ataques ao programa de reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social”.

“No momento em que o governo federal vem obtendo resultados significativos na recuperação do nível de emprego, do salário e da renda da população, tais avanços são apresentados como pretexto para forçar ainda mais a elevação da taxa básica de juros, quando o país e suas forças produtivas demandam exatamente o contrário: mais crédito e mais investimentos para fazer a economia girar”, prosseguia o manifesto.

Se o governo não fizer o corte de gastos, perderá toda a sua capacidade de fazer política pública e o povo, mais adiante, será prejudicado, observou um colaborador de Lula.

No palácio, houve também reclamações contra uma postagem de Gleisi na rede social X logo após a reunião do Copom dos dias 5 e 6 de novembro, que aumentou em 0,5 ponto percentual a taxa Selic. Gleisi, na ocasião, disse que diretores do Banco Central estariam sabotando a economia do país.

Entre os nove diretores que aprovaram unanimemente o aumento estavam os quatro dirigentes da instituição indicados pelo presidente Lula – Gabriel Galípolo, Ailton de Aquino Santos, Paulo Pichetti e Rodrigo Alves Teixeira.

“(O) Copom mantém a sabotagem à economia do país e eleva ainda mais os juros estratosféricos. Irresponsabilidade total com um país que precisa e quer continuar crescendo”, escreveu a presidente do PT. Para um membro do governo, considerar Galípolo e os outros diretores como “sabotadores” seria o mesmo que chamar Lula e Haddad de “ingênuos e inocentes”.

A postagem de Gleisi na rede X, antigo Twitter, gerou um alerta – que ocorre quando leitores adicionam outras informações que avaliam ser de interesse das demais pessoas (geralmente é um recurso usado em casos de fake news) –, lembrando que “a votação do Copom foi unânime em elevar a taxa para 11,25%, (e) dos 9 membros do Copom 4 foram indicados pelo presidente Lula do seu partido”.

Gleisi, em seguida, rebateu: “Engraçado esse X, colocam na capa de meu Twitter um comentário de usuário dizendo ser um esclarecimento com conteúdo político. Qual é o critério da seleção? Eu sei quem são os diretores do BC e vou continuar criticando a autoridade monetária toda vez que achar que eles estão errando na decisão. E aumentar 0,5% pontos na Selic é desastroso para o nosso país”, afirmou.

Sobre o manifesto dos movimentos sociais e partidos, Gleisi alegou que os termos do manifesto estariam alinhados com uma nota emitida em junho pela Comissão Executiva Nacional do PT. Disse que o PT “não faltará a Lula” quando ocorrer a definição sobre os cortes.

O endosso do documento por Gleisi foi criticado publicamente pelo deputado estadual paulista Emídio de Souza (PT), ex-prefeito de Osasco e hoje bastante próximo de Lula. “Nós não estamos no governo, nós somos o próprio governo. Não somos um movimento social, somos o partido político que dirige o país”, observou Emídio. “Evidentemente que o partido pode e deve debater o governo”, afirmou o deputado, “mas jamais num clima de confrontação e muito menos na mídia”.

Fonte: Estado de Minas

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