Ex-jogador estava internado há duas semanas por causa de um câncer no pâncreas
Morreu nesta segunda-feira (5), aos 68 anos, Adílio, um dos grandes ídolos da história do Flamengo. O ex-jogador estava internado em um hospital particular na Freguesia, Zona Oeste do Rio, há cerca de duas semanas, por causa de um câncer no pâncreas. O corpo do ícone rubro-negro foi velado, na manhã desta terça-feira, na sede do Flamengo, na Gávea.
Em março, Adílio passou por uma cirurgia de emergência por causa de dores na coluna, que se irradiaram para o estômago e abdômen. O procedimento foi bem-sucedido, mas a condição dele voltou a piorar.
Vida
Adílio de Oliveira Gonçalves nasceu em 15 de maio de 1956, na Cruzada São Sebastião, na zona sul do Rio. Filho de Sebastião e Laide Gonçalves, perdeu os dois muito cedo. O pai morreu quando tinha apenas quatro anos e a mãe quando ele estava com 14. Os ensinamentos, porém, ficaram.
“Minha mãe era uma pessoa maravilhosa, me dizia até as coisas que iriam acontecer comigo no futuro. Coisas que eu desconhecia. Minha mãe tinha uma visão muito boa. Eu tenho até uns traços dela, usei até no campo, antever o lance, trabalhar essa coisa de mente, puxar uma coisa para você positiva e a coisa acontecer. Isso vem até da minha mãe”, disse Adílio, em entrevista ao Museu da Pessoa.
“Eu sempre fui uma pessoa positiva. Pode estar caindo um telhado na minha cabeça… Vai quebrar aqui (a cabeça), mas não vai quebrar o que é mais correto, que é o meu coração. Sempre pensei assim. Estou aqui, minha índole sempre foi a mesma. Fui pelo caminho correto”, completou posteriormente.
Ele, aliás, sempre valorizou os estudos. Adílio foi aprovado em psicologia na PUC, mas foi aconselhado pela madrinha a fazer educação física. Assim, ingressou no curso em outra universidade: “Eu jogava e estudava. Eu sempre tive essa filosofia: ‘Craque na bola, craque na escola'”.
A história no Rubro-Negro contou com o auxílio do grande amigo Júlio César, conhecido como Uri Geller, que já, mais tarde, também se tornaria um dos ídolos da história do clube.
Júlio levou Adílio para fazer um teste, mas havia um problema: só poderia entrar quem era sócio. A solução, então, foi pular o muro da sede do clube escondido. Lá dentro, o amigo lhe deu uma camisa de treino e o apresentou ao treinador do futebol de salão.
“Quando ele (Adílio) dominou a bola já foi aprovado. Não precisou ver muita coisa também, não. O Adílio é meu irmão, batalhamos junto, jogamos em todas as categorias desde o dente de leite. Fomos galgando todas as categorias e chegamos ao lado do time principal. É um orgulho muito grande ter levado o meu amigo ao clube certo”, disse Júlio César, ao Uol, em 2020.
Carreira
Campeão mundial com o Flamengo, Adílio é um dos maiores ídolos do clube. Entre 1975 e 1987, o ex-jogador defendeu a camisa rubro-negra em 617 oportunidades, sendo o terceiro atleta que mais atuou pelo time. Com 129 gols marcados, ele venceu 377 jogos, empatou 148 e perdeu apenas 92 partidas.
Além do título mundial de 1981, maior conquista da história centenária do clube da Gávea, Adílio ganhou também uma Libertadores, em 1981, e três Campeonatos Brasileiros, em 1980, 1982 e 1983. Em sua lista de troféus, há ainda quatro Campeonatos Cariocas, seis Taças Guanabara e três Taças Rio.
Depois de mais de uma década defendendo o Flamengo, Adílio deixou o clube em 1987 e atuou por diversos times do Brasil e do exterior, se aposentando em 1997.
Desde então, seguiu ligado ao clube carioca e atuou nas divisões de base. Ele, aliás, era o presidente do Flamaster, que reúne uma série de ex-jogadores e ídolos rubro-negros. No entanto, devido à doença, se afastou da equipe em abril.
Em maio, quando completou 68 anos, Adílio foi homenageado com uma festa no recém-inaugurado Museu do Flamengo, na Gávea, com a presença de vários ex-companheiros.
Em 1987, Adílio deixou o Flamengo e foi para o Coritiba. Na sequência, reforçou o Barcelona de Guayaquil. Lá, inclusive, ajudou na contratação de Edu, irmão de Zico, para o cargo de técnico do time.
“Eles se encantavam com o futebol brasileiro, diziam que era um futebol encantador. Nos treinamentos eu mostrava como tocava a bola, o Edu (irmão de Zico) falava bastante, o trabalho dele foi muito bom. Encaixou tudo. A maioria que estava no comando ali era brasileiro, então ficamos muito amigos e ajudou bastante, a própria direção entendia à nossa maneira de jogar futebol, com toque de bola, vontade de fazer gols. Acredito que modernizamos um pouco o futebol de lá”, contou Adílio, ao ge, em 2022.
O ex-jogador ainda soma passagens por Alianza Lima (PER), outros clubes do futebol brasileiro e Borussia Fuld, da Alemanha.
Seleção Brasileira
Apesar do brilho no Flamengo, Adílio recebeu poucas oportunidades e disputou apenas duas partidas com a camisa da seleção brasileira. Ainda assim, fez valer o tempo que esteve com a Canarinho e deu a assistência para Júnior marcar o único gol da vitória sobre a Alemanha Ocidental no Maracanã.
Por outro lado, marcou história com a seleção brasileira de futsal. Adílio fez parte do grupo que se sagrou campeão da Copa do Mundo da modalidade em 1989.