O Comitê Gestor dos Hospitais Federais do Ministério da Saúde, criado para tratar da crise da Saúde federal instalada no Rio, não está dando conta do trabalho tamanho foi o estrago que foi feito por gestores incompetentes. Tanto que mesmo após 50 dias de trabalho, pouco mudou: até ontem (segunda-feira, 7/5) à noite, as seis unidades da União na capital tinham 366 leitos fechados — número 27% superior ao registrado no final de abril do ano passado.
Enquanto isso, segundo a Secretaria municipal de Saúde, cerca de 450 pacientes aguardam nas emergências uma transferência para hospitais de alta complexidade, que são federais. São pessoas que precisam de tratamentos de câncer ou cirurgias cardíacas, por exemplo. Vagas para internação estão bloqueadas devido a problemas de infraestrutura, como camas quebradas e defeitos elétricos, além da falta de médicos e enfermeiros.
Na lista que é alvo de preocupação, o Hospital de Bonsucesso lidera o ranking de leitos sem pacientes. Apesar de ter capacidade para 412 pessoas hospitalizadas, ontem à noite havia apenas 197 internados, ou 47% do total. Dados do Censo Hospitalar da prefeitura do Rio mostram que todos os 18 leitos para internação clínica de pacientes cardíacos na unidade estão fechados por falta de médicos.
Em 16 de março, o Ministério da Saúde mexeu na administração dos seis hospitais federais da cidade através da criação do comitê gestor.
Com a ação, o governo centralizou as contratações de servidores e serviços, compra de medicamentos e materiais e obras emergenciais nas unidades — responsabilidades que, até então, eram dos gestores de cada instituição.
A intervenção teve como pano de fundo denúncias sobre a deterioração das unidades federais de saúde e a pressão, feita por integrantes do PT e de alas sindicais, contra a ministra Nísia Trindade — serviu de estopim uma portaria que centraliza cargos e funções no Departamento de Gestão Hospitalar (DGH).
Um levantamento do próprio departamento no ano passado mostrou inúmeras suspeitas de irregularidades nos hospitais, como sobrepreços e direcionamento de licitações.
Doutor em Saúde Pública e coordenador-geral do Proqualis/Fiocruz, voltado para a qualidade do cuidado e da segurança do paciente, Victor Grabois vê a criação do comitê gestor como “boa saída” para a crise nos hospitais federais do Rio, mas alerta que a troca constante de gestores, observada nos últimos anos, atrapalha:
— Nenhuma instituição consegue desenvolver um plano de trabalho com trocas sucessivas de gestores. O foco deve ser formar uma equipe e, talvez, pensar nos hospitais federais do Rio como um complexo hospitalar.
ENTENDA – A corrupção nas unidades de saúde federais do Rio apareceu na mídia, com a exoneração do diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Alexandre Telles, indicado pelo deputado Federal Dimas Gadelha (PT-RJ), após uma investigação do Fantástico (Rede Globo).
Desde maio de 2023, denúncias sobre corrupção nos Hospitais Federais têm sido veiculadas pelo RJTV e RJ2 da TV Globo, apontando para a nomeação de pessoas ligadas ao deputado Dimas Gadelha (PT) em cargos-chave, muitos deles de São Gonçalo, além da nomeação do advogado particular de Dimas, Gildo Souza.
Além do favorecimento político, testemunhas relatam a instalação de uma porta acústica no gabinete do diretor Abel Martinez para representantes comerciais e fornecedores, exigindo pagamentos e criação de vagas dentro das empresas contratadas.
Também há influência política nos hospitais de Bom Sucesso e Andaraí, onde o médico Jefferson Antunes Gomes, ligado a Dimas desde sua gestão na Secretaria de Saúde de São Gonçalo, ocupa um cargo importante.
Documentos revelam que cinco pacientes morreram por falta de atendimento adequado no Hospital Federal de Bonsucesso, enquanto o Hospital do Andaraí enfrenta problemas como cirurgias suspensas, leitos fechados e o sumiço de equipamentos médicos valiosos, incluindo um tomógrafo de R$ 1 milhão e um raio-x de R$ 3 milhões.