Depois da abertura dos trabalhos, na sexta-feira, o sábado de carnaval traz à Marquês de Sapucaí mais oito escolas da Série Ouro, duas das quais, infelizmente, não participarão da competição. Prejudicadas pelo incêndio na fábrica de fantasias em Ramos, Unidos de Bangu e Império Serrano aparecem como hors-concours, sem chances de título ou de rebaixamento.
A noite começa com um momento histórico: a volta da Tradição à passarela, depois de onze anos. A escola fundada como dissidência da Portela em 1984 fez uma fumaça em seus primeiros anos no Grupo Especial (para o qual subiu como um foguete). Depois de um mergulho às profundezas da Intendente Magalhães, está de volta, com o enredo “Reza”, baseado em música de Pretinho da Serrinha. A escola é comandada pela presidente Raphaela Nascimento, filha do histórico mandatário Nézio Nascimento e neta da lenda Natal da Portela.
Se a Tradição tem história no Grupo Especial, a escola seguinte nunca esteve lá: a União do Parque Acari, fundada outro dia mesmo, em 2018. A escola das cores amarelo, rosa e branco tem o violão, principal instrumento de harmonia da música brasileira, como enredo, em “Cordas de prata: o retrato musical do povo”, do carnavalesco Guilherme Estevão, ex-Mangueira.
Vinda de não muito distante de Acari, a Acadêmicos de Vigário Geral é a terceira a passar pela avenida, com “Ecos de um vagalume”, homenagem ao jornalista Francisco Guimarães, o Vagalume, e sua história de pioneirismo ao retratar pessoas negras e periféricas na imprensa.
Da Zona Oeste vem a Unidos de Bangu, a mais antiga escola da região (anterior a Mocidade, Unidos de Padre Miguel e Acadêmicos de Santa Cruz, entre outras), fundada em 1937. Alijada da competição, a alvirrubra defende a resistência indígena da Aldeia Maracanã com o enredo “Maraka’anandê”.
Fresquinha de sua última passagem pelo Grupo Especial, em 2024, a Unidos do Porto da Pedra mantém o vermelho e branco na avenida, indo à Amazônia com o enredo “A história que a borracha do tempo não apagou”. A escola de São Gonçalo, que compete no carnaval carioca há 30 anos, manteve quadros importantes como o carnavalesco Mauro Quintaes e o puxador Wantuir para tentar voltar a competir entre as grandes.
Outra velha conhecida do Grupo Especial vem em seguida: única representante da Zona Sul entre as 28 escolas a desfilar na Sapucaí, a São Clemente retrata os oprimidos, como os cães vira-latas, em “A São Clemente dá voz a quem não tem”, resgatando seu tradicional perfil politizado e irreverente.
Dois perfis opostos de escolas encerram a Série Ouro 2025: a Acadêmicos de Niterói – que até outro dia mesmo se chamava Acadêmicos do Sossego – compete no Rio desde 1996 e nunca foi ao Grupo Especial. Com o experiente Nêgo ao microfone, a azul-e-branco traz o enredo “Vixe Maria”, dedicado às festas juninas. Encerrando a festa, o Império Serrano, nove vezes campeão do Grupo Especial, promete emocionar ao homenagear o compositor Beto Sem Braço em “O que espanta miséria é festa”. Mesmo sem competir, o Reizinho de Madureira se comprometeu a desfilar como se não tivesse tido fantasias destruídas no incêndio.
Fonte g1
