Textor escolhe português ex-Bahia após quase dois meses de procura: “Estou convencidíssimo de que rapidamente o time voltará aos níveis que tinha com Artur Jorge”
O Glorioso apresentou, nesta sexta-feira, o português Renato Paiva como novo treinador. O comandante de 54 anos foi o escolhido por John Textor após um processo seletivo que durou quase dois meses. Paiva assinou contrato até dezembro de 2026 e, ao deixar claro saber que não era a primeira opção, exaltou ter sido contratado. Prometeu um time ofensivo.
– É com enorme orgulho e satisfação que chego a este gigante do futebol mundial. É o objetivo de qualquer treinador um clube como o Botafogo, com esta história e seu presente. (…) O processo foi um pouquinho mais longo do que parece. Vou utilizar uma palavra muito querida pela nossa torcida. Houve muitos nomes, falou-se com muita gente, e o escolhido foi eu. O escolhido, como a torcida se vê, é um termo bíblico, forte e bonito, a torcida sendo escolhida por ser Botafogo. E, no meio de tantos nomes, me senti o escolhido, o “chosen one”, como dizia o John – afirmou Paiva.
No Brasil, o português trabalhou no Bahia em 2023. Ao descrever seu estilo de jogo, ressaltou que pretende colocar em campo uma equipe com características ofensivas:
– Quero atacar com muitos e defender com poucos. Proposta de jogo ofensiva, ter a bola o maior tempo possível e, quando a perdermos, recuperá-la da mesma forma. Equipe que não é reativa, que procura o gol adversário. Em dois torneios, fomos o melhor ataque do México. Fomos as equipes que jogavam o melhor futebol no México. Fundamentado no desenvolvimento individual dos jogadores. Acredito que todos, conectados, terão um coletivo muito mais forte. Invisto muito nisso com os jogadores, com relação muito próxima. Sempre digo: perguntem aos jogadores por onde passamos. Estou muito consciente do que a torcida quer em termos de qualidade de jogo, e sentir que a forma como vejo o jogo, posicional, e que a forma de jogar vai agradar bastante aos torcedores do Botafogo.
Perguntado sobre o motivo de ter aceitado o projeto alvinegro, o português mostrou conhecimento sobre a história do Botafogo e citou ídolos do clube. Renato Paiva revelou que sua forma de enxergar futebol bate com as ideias de John Textor.
– A primeira coisa que me fez aceitar o projeto é o escudo, a grandeza, a história. Chego num momento em que vou treinar o campeão do Brasil e da América. Isso juntando a uma história de gente tão ilustre, como Garrincha, Maurício, Túlio, Nilton Santos… Isso era mais que suficiente quando o convite chegou. Recusei alguns convites porque não eram projetos. Essa forma do John e da Eagle de olhar o jogo é a cara da minha comissão e de como vemos o trabalho. Pedir tempo é complicado, eu sei, mas este projeto é um casamento perfeito. Nem sempre vamos ganhar. Para mim, jogar bem é relativo, mas temos que ter a bola. Os jogadores vão desfrutar muito. Temos a pressão de ganhar, com uma torcida que quer ganhar. O sonho de qualquer treinador é jogar por títulos. Dentro de tudo isso, o nome do Botafogo era suficiente. Foi uma proposta dentro de tudo o que eu vejo.
Paiva estava livre no mercado desde o início de dezembro, quando deixou o Toluca, seu último clube. A negociação do acerto com o Alvinegro foi rápida, após conversa de duas horas com Textor na concentração do time na quinta-feira. Com o “ok” do português, os dois assistiram à partida entre Botafogo e Racing pela decisão da Recopa Sul-Americana.
O novo treinador alvinegro chega acompanhado de quatro auxiliares: Ricardo Dionísio (assistente técnico), Miguel Teixeira (assistente técnico), Rui Tavares (preparador de goleiros) e Daniel Castro (preparador físico).
“Sou um sortudo por ter esse mês de trabalho. Treinador não olha para os problemas, mas soluções. É uma base campeã, extraordinária em nível técnico, psicológico, com ambição. Ganharam títulos de forma histórica, como na final da Libertadores com um jogador a menos desde o início. Só se alcança com grandes grupos. Com base de jogadores e trabalhos, é só dar um toque com a nossa forma de ver o jogo. Tenho certeza absoluta de que os torcedores ficarão muito orgulhos pela forma como vamos os representar em campo”, disse o técnico.
“Passei pelo Independiente del Valle, conquistando título. Passei pelo León, não fui muito bem. Depois no Bahia, como o John disse, não fui tão mal. Ganhei o título estadual, que não se vencia há três anos, com 25 jogadores novos e sem tempo para treinar. Fizemos a melhor campanha do clube na Copa do Brasil e quase chegamos às semifinais. No Toluca tive meu melhor trabalho não só em qualidade, mas em números. Não chegamos à final, mas os números na fase regular foram bons. Tenho o DNA do Botafogo. O torcedor exige que se ganhe e vamos jogar com essa forma de jogar, o “Botafogo Way”, avaliou Paiva.
“O elenco é campeão da Série A e da Libertadores. E não vai ser a saída de algum jogador que fragilizar, portanto, o scout já deu mais do que provas da sua competência e da sua qualidade. Claramente soube repor essa saídas com jogadores de qualidade em posições críticas. Estou muito satisfeito, o elenco mescla experiência com juventude. Temos jogadores jovens que deixam água na boca para trabalhar para que eles tenham rendimento esportivo o mais rápido possível. Esse equilíbrio é sempre muito difícil em um clube grande. Tem que dar essa oportunidade aos jovens, mas sempre em contexto favorável para eles crescerem e não comprometerem o resultado. Como dizia John, o elenco nunca nos deixa satisfeitos, sempre falta alguma coisa, mas estou muito satisfeito com o que vou encontrar”, ressaltou o comandante.
Sobre a relação com a torcida ele disse: “É muito simples, é ganhar e ganhar. É no Brasil e em todo lado, mas sei que no Brasil é mais. É importante a torcida de um gigante ter essa pressão e esse desejo de ganhar sempre, mas temos que estar preparados para dar essa resposta. Dizia muito aos meus jogadores do Toluca, quando estávamos em 13º e com o estádio não muito cheio que trazemos as pessoas para perto de nós “de dentro para fora”, com aquilo que fazemos em campo. Depois de uns meses, o estádio estava cheio com ingressos esgotados e tivemos apenas uma derrota em casa. Foi com o trabalho deles no campo, ganhando, na forma de jogar, que cativamos o torcedor. Sabemos o que o torcedor do Botafogo quer e vamos com o elenco que temos, que eles já sabem fazer, dar essa continuidade com cunho pessoal, sem mudar muito porque a base é campeã”, disse o técnico.
– Mas a relação com a torcida é isso, ganhar respeito porque sei que é difícil para treinadores no Brasil. Também tive isso no Bahia, sou uma pessoa que aprendeu. Respeito todas as torcidas. É o coração do clube, que sofre, que ri, o mais importante é a torcida. Agem na emoção e na paixão, entendemos isso, mas desse lado temos que ter razão para tomar as decisões, porque estamos no dia a dia, e saber quais são as melhores decisões porque às vezes eles não entendem. Mas, quando a bola entra no gol adversário, eles acabam por entender.
– Acredito muito em sinais. Quando não renovei com o Toluca, de forma surpreendente por tudo que aconteceu, eu senti que algo de grande estava para acontecer. O melhor trabalho que fiz foi este no Toluca, faltou só o título. Não foi possível, mas sentimos um peso de injustiça. Por questões pessoais eu vivo no Rio há pouco tempo, e acabou por acontecer. O Botafogo sem treinador, meu nome cogitado e eu sentia que poderia ser chamado. Valorizo muito esses sinais e acho que vão ajudar muito a nos dar títulos nesta temporada. Estou preparado. Representa muito para minha carreira treinar um clube deste tamanho. Não é só um sonho, mas um objetivo. Sei que não era unanimidade. Sei que há torcedores que gostam do nome e outros que não gostam. Aos que gostam, eu agradeço. Aos que não gostam, eu vou convencê-los.
– Há um grupo de jovens muito talentosos. Eu vi o Matheus ontem, faz parte desse grupo. Há um conjunto que precisamos conhecer e trabalhar com eles. Identificar suas características positivas e fazer um trabalho com eles. Ninguém cresce só treinando, eles vão precisar de oportunidades. Mas não vou olhar o CPF para ver a data de nascimento. Vão ter a oportunidade de trabalhar todos juntos. É preciso um contexto para lançar os jovens em termos de conselho e vivência. Tem que ter um equilíbrio. Eu, como treinador de base formadora, vou sempre olhar primeiro para dentro de casa antes de contratar. Num clube que briga por títulos, não é fácil. Não vamos comprometer o rendimento por lançar jovens de forma obrigatória.
– Essa questão de ser o último na escolha. Não vejo as coisas assim, o tempo de Deus é assim, o escolhido fui eu e o escolhido para fazer a torcida do Botafogo, os escolhidos, mais felizes e continuarmos as vitórias. Me chamaram para uma reunião e volto a estar muito orgulhoso com as palavras do John, no meio destes nomes todos, dizer que eu fui o mais preparado de todos. Consciente da responsabilidade, mas com uma vontade tremenda de começar a trabalhar, de conhecer os meus jogadores, porque eles, num clube de futebol, são os mais importantes. Muito ansioso para começar a trabalhar com eles.
– Temos que ter um equilíbrio entre ataque e defesa. Uma equipe grande tem que saber atacar de várias formas. Uma equipe grande tem que saber entrar nas defesas de maneiras diferentes. Quero que ataquemos com muitos e saibamos defender com poucos. Saber defender com poucos tem a ver com questões posicionais. Às vezes você acha que está controlando o adversário, mas não está. O segundo gol do Racing, na Argentina, foi assim. Precisamos eliminar referências de contra-ataques dos adversários. As equipes grandes costumam criar muito e, quando você não é eficiente, o adversário chega pouco e faz. Temos que jogar com um bloco curto, com muita pressão. Quando perdermos a bola, todos têm que tentar eliminar a posse do adversário. O mais importante é que a partir de terça-feira os jogadores consigam entender. Acredito muito nos treinos. Vamos trazer de volta a organização defensiva sem perder o DNA ofensivo da equipe.
– Era muito mais difícil começar do zero, como foi no Bahia, mas aqui começamos com uma base de muita qualidade e vencedora. O diagnóstico eu vou fazer para dentro, é importante que os jogadores percebam a nossa ideia. Fez-se o trabalho que levou o Botafogo não só a ganhar, mas a encantar como um dos melhores futebol no Brasil. Se já fizeram, é porque sabem fazer e vamos recuperar isso dentro das nossas ideias. A base que temos é qualidade do elenco, percepção que os jogadores têm do jogo, que eu gosto, capacidade psicológica da ambição, do querer, e resiliência. A base está aqui. Vamos usar os pontos que achamos na organização ofensiva e defensiva e a gestão do elenco. A partir de terça, é olho no olho, contato, falar e sentir, e perceber onde eles têm mais rendimento e onde gostam de jogar. Não há muito para mudar da base, e isso é o que me deixa mais satisfeito, vamos trabalhar cirurgicamente naquilo que ainda falta. Estou convencidíssimo de que, rapidamente, o Botafogo voltará aos níveis que tinha com Artur Jorge.
– Se Abel já fez é porque se pode fazer, impossível não é. O futebol vive de ciclos e o Botafogo acaba de entrar em um vitorioso esse ano. E eu sei que só três clubes ganharam Libertadores e Brasileiro ao mesmo tempo na história do futebol brasileiro. Mais difícil que ganhar é manter nesta realidade que é o futebol brasileiro. O calendário é muito exigente.
– É preciso ter dois elencos para respondermos a 75 jogos durante a temporada. Não é por acaso ter tanta lesão só nos estaduais. O processo é complexo. O trabalho dos jogadores no campo é nosso, da comissão técnica, mas depois nós precisamos da torcida para ajudar a equipe nesses momentos. É inegável o peso desta torcida.
– A forma como fui recebido é de excelência. O caminho que todos queremos é ganhar, continuar a engrandecer o nome do Botafogo, fazer com que jogue bem, potenciar os jogadores porque ao fim e se ganha-se títulos e saem os jogadores para outros patamares. Não é só ganhar, nós no Independiente del Valle, ganhamos e vendemos quase nove jogadores, muitos da base. Isto tem que nos deixar orgulhosos também.
– Esse Botafogo Way não tem que ser necessariamente só dentro das quatro linhas, mas um exportador de talento como é reconhecido na Academia do Benfica, e este é um objetivo, mas só vai ser possíveis juntos, é impossível se uns para um lado e outros para o outro. Vai haver momentos difíceis, o calendário, o campeonato, os adversários que têm muita qualidade. Eu sei que é possível porque o Botafogo só chegou a esta temporada tão vencedora porque conseguiu – juntos – caminhar no mesmo sentido, e é isso que vamos pedir e fazer.
Sobre o elenco suficiente para o Mundial o treinador fez pedido por reforços:
– Acredito muito que quando se chega a um estrutura desse nível, tão profissional, e olhando para trás, o treinador tem uma palavra importante, mas quando o scout é tão bom e efetivo, o treinador tem que ser um pessoa feliz, chegar e dizer: ‘aqui está um trabalho fantástico’. Aqui eu só quero agregar. Esse é um elenco que não se faz de um dia para o outro, que tem muito trabalho, e é isso que eu quero e gosto.
– Trabalho com muita gente, para se sentirem importantes. Olhei para o elenco e não fiz pedidos, não fiz exigências. Deixo essa área para quem dirige o clube. O que posso dizer é se não gosto das características de algum jogador, que não se enquadram no que eu penso do jogo, porque eu tento contrato em função da minha forma de jogar. Não posso contratar um lateral que não seja ofensivo quando minha ideia é por um jogo ofensivo. Os projetos que recusei tinha um pouco disso, mexiam com minha forma de trabalhar e essência do jogo. Estou super satisfeito, mas se amanhã chegasse um super craque eu não dizer que não.
EXPLICAÇÃO DA DEMORA – Dono da SAF do Botafogo, John Textor falou antes da apresentação do treinador e explicou a demora no processo de escolha. O americano afirmou que conversou com diversos nomes, que gosta de entender o trabalho dos candidatos e destacou que alguns dos ventilados não eram verdade.
– Aproveitei esse tempo, sim, não só para entrevistar, mas para ter conversas com um número de treinadores. Gosto de ter essas discussões bem próximas com os técnicos. E isso levou a rumores e especulações sobre quem receberia ofertas, se faríamos propostas, se fomos rejeitados por um técnico específico. A maior parte desses rumores não foi verídica em relação ao processo que eu tinha – declarou Textor, que elogiou o novo treinador:
– Renato era o mais preparado nessas conversas. Ele sabia mais sobre os nossos jogadores do que eu sei. Não sou um homem do futebol, mas conheço nossos jogadores. Ele tem um plano para cada um dos nossos jogadores, ele mostrou isso na entrevista. Ele tem um plano individualmente, para ajudá-los, e coletivamente. Essa foi provavelmente a parte que mais me impressionou, não apenas a experiência, mas a preparação para o trabalho.
Fonte gE
São Gonçalo vai mudar: Notícias de São Gonçalo e toda região.
