A produtora Mirenax, de Niterói (RJ), vai começar, em novembro, em Santa Catarina, as gravações do documentário “Justiça cega?”, que trará uma visão crítica sobre o sistema de persecução penal brasileiro, analisando todas as etapas do processo, da investigação policial ao julgamento, inclusive a criação de um conceito artificial de comoção pública para a obtenção de condenações arbitrárias.
Um dos casos que será abordado pelos principais especialistas em segurança pública do País é o do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que cometeu suicídio 18 dias após ter a prisão decretada por suposto desvio de verbas públicas, em 2017, aos 59 anos.
Cancellier foi alvo da operação Ouvidos Moucos da Polícia Federal de Santa Catarina. A Justiça Federal decretou sua prisão, acatando as acusações do Ministério Público Federal e da delegada Érika Mialik Marena, que também foi coordenadora da operação Lava-Jato em Curitiba, Paraná.
Os responsáveis pela apuração inundaram os principais jornais brasileiros com informações, que viriam a ser comprovadas como falsas, afirmando que o ex-reitor era responsável pela obstrução das investigações sobre o desvio de R$ 80 milhões da UFSC. Outros seis professores foram presos com Cancellier e afastados da instituição de ensino.
Após ampla divulgação dos veículos de comunicação, a instituição de ensino foi pichada com acusações contra os professores, chamados de ladrões, e as redes sociais se encheram de ataques de ódio contra eles.
Cancellier se jogou do alto da escada rolante do quinto andar do Beiramar Shopping, de Florianópolis, vestindo uma camisa da UFSC. Seus advogados haviam conseguido um habeas corpus, mas ele estava proibido de entrar na universidade.
Os legistas encontraram em um bolso de suas calças um bilhete, onde ele afirmava: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!”. Em 2018, a PF encerrou o inquérito por falta de provas, mas, até hoje, alguns acusados ainda não foram inocentados na Justiça Federal por causa de constantes adiamentos de audiências.
“Sabemos que o assunto do documentário é desafiador, delicado, mas já estamos e estivemos envolvidos por muito tempo em tudo para não tocar adiante”, afirma a diretora e atriz Railane Borges, que está à frente do projeto.
O produtor executivo de “Justiça cega?”, Sandro Araújo, acredita que o documentário irá promover um amplo debate sobre graves erros, que ocorrem no sistema penal brasileiro.
“Teremos várias surpresas para o público, entre elas alguns dos especialistas, que participarão do projeto, mas o importante é mostrarmos como a vida das pessoas pode ser destruída por algum interesse perverso ou por simples indolência de agentes públicos. Traremos à luz informações novas sobre casos, que impactaram o País, mas que se revelaram erros absurdos do sistema penal brasileiro”, diz ele, que é ainda policial federal e escritor.
A Mirenax lançou, em 2021, “Novembro”. Após ser exibido em alguns dos principais festivais internacionais de cinema independente, o filme, dos cineastas Railane Borges e Matias Palma, rodado em Niterói, está disponível nas plataformas Apple ITunes, Google Play, YouTube, Prime Box, Vivo Play e Claro TV.
O longa-metragem, baseado no romance “Solidão e Destino”, de Sandro Araújo, marcou a estreia de Railane como diretora, após quase duas décadas atuando como atriz na telona e na televisão.
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