Polícia conclui que não houve racismo em abordagem a adolescentes em Ipanema

Polícia conclui que não houve racismo em abordagem a adolescentes em Ipanema

Três filhos de diplomatas negros e dois brancos foram revistados por dois PMs, em julho. Nenhum dos jovens relatou qualquer palavra ofensiva, xingamento, de cunho racial ou discriminatória

A Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) concluiu nesta sexta-feira (9) a investigação sobre a abordagem de policiais a quatro adolescentes (três deles negros, filhos de diplomatas), no último mês de julho, em uma ria de Ipanema, Zona Sul do Rio.

Para os investigadores, não houve “o crime de injúria racial, modalidade típica do crime de racismo ou do próprio crime de racismo” praticado pelos dois agentes. O caso agora foi encaminhado para o Ministério Público.

No relatório final da Polícia Civil, a delegada Danielle Bulus Araújo diz que “nos depoimentos dos quatro menores abordados não foi relatado o uso de palavras ofensivas, xingamentos, palavras com cunho racial, discriminatórias ou humilhante por parte dos PMs”.

Imagens de câmeras corporais de policiais que patrulhavam a região revelaram que, minutos antes, PMs haviam sido abordados por um turista estrangeiro, relatando que teria sido vítima de roubo de um cordão, o que foi corroborado por outros dois homens. Esses acrescentaram que o ladrão usou uma faca grande durante o crime. “Os homens descrevem para os policiais as características dos roubadores e eles saem com as viaturas para tentar localizar o grupo de criminosos”, diz o relatório do inquérito.

Ainda de acordo com a delegada, os policiais “não elegeram suspeitos com base na cor da pele, estavam atrás de suspeitos seguindo a descrição de vítimas estrangeiras que tinham acabado de sofrer um crime na praia de Ipanema”.

No documento de 11 páginas a Deat conclui que “na abordagem não houve tratamento diferenciado para ninguém. Todos foram revistados, inclusive o adolescente branco teve a revista padrão da bolsa escrotal enquanto um dos menores pretos não sofreu a revista”.

Outro trecho do inquérito diz que “…como os policiais procuravam um cordão roubado e comumente os criminosos engolem cordões ou escondem na cueca, a revista se deu também nas partes íntimas seguindo o padrão de abordagem nesses casos em que se busca esse tipo de ‘res furtiva’ (produto do roubo). Do que se depreende das imagens obtidas e dos depoimentos prestados, não houve dolo do crime de injúria racial, modalidade típica do crime de racismo ou do próprio crime de racismo”.

Mãe reclamou da abordagem

Três filhos de diplomatas negros estavam na Rua Prudente de Moraes acompanhados de outros dois meninos brancos, que são brasileiros. Eles deixavam um amigo em casa quando foram abordados. A família de um dos brasileiros denunciou, em posts em redes sociais, que considerou a abordagem racista. Na Polícia Civil, nada relacionado a qualquer ato racista foi mencionado.

A embaixatriz do Gabão, mãe de um dos menores abordados também criticou a abordagem, principalmente porque os jovens foram abordados pelos policiais com armas em punho.

Em depoimentos, os adolescentes abordados e testemunhas disseram não ter ouvido qualquer palavra de cunho racial, e que os policiais agiram da mesma forma com todos.

PROCESSO

Após a divulgação do relatório, a mãe de um dos adolescentes argumentou que “o racismo vai muito além de proferir palavras racistas” e afirmou, por exemplo, que os adolescentes foram orientados a não sair mais após a revista, porque poderiam ser alvos de nova abordagem. Também afirma que seguirá com o processo até a última instância.

A advogada que representa a família diz ainda que a “câmera interna do prédio registrou o momento da abordagem dos policiais junto aos adolescentes e mostra que o menino branco não foi alvo da ação violenta, podendo ingressar no prédio sem ser interpelado”. A defesa afirma que espera que o Ministério Público do RJ ofereça a denúncia pelo crime de racismo.

Fonte: G1

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