No entanto, ministra da Saúde negou mudanças na gestão das unidades cariocas
A ministra da Saúde Nísia Trindade negou que o Ministério vai distribuir a gestão dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro entre os governos estadual e municipal. A rede hospitalar federal na capital fluminense vem sendo alvo de uma série denúncias de problemas de atendimento, falta de materiais, de profissionais e de manutenção.
Em assembleia realizada servidores da rede se manifestaram contrários à possibilidade de transferência de gestão, como vem sendo veiculada na imprensa.
Em coletiva de imprensa recentemente a ministra afirmou que governo ainda estuda alternativas para um modelo de gestão definitivo para as unidades, que vem sofrendo há anos com a precarização.
“Não existe distribuição dos hospitais. Isso foi uma notícia veiculada pela imprensa, não partiu de nós. É a primeira coletiva oficial que damos sobre a questão dos hospitais no Rio de Janeiro, porque estávamos totalmente empenhados nesse trabalho. O governo federal não abrirá mão de coordenar um programa de reconstrução desses hospitais, e fará isso dentro da visão do SUS, que é trabalho em rede, contando com todas as instituições parceiras”.
A ministra ainda comentou sobre a possibilidade de transferência dos hospitais a universidades, para a gestão pela Ebserh, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
“A Ebserh tem se mostrado uma excelente alternativa de gestão, tanto é que tem aumentando a adesão. São muitas universidades que não estavam com seus hospitais na Ebserh, que nos procuram nesse sentido. Então, a Ebserh será parceira nesse sentido, mas não tem a possibilidade de você hoje pensar numa absorção de vários hospitais pela Ebserh. Tudo será feito com muito cuidado, por isso eu rejeito essa ideia de uma distribuição”, disse ela.
Na coletiva, também foi apresentado um balanço das ações do Comitê Gestor que iniciou, há cerca de um mês o trabalho de diagnóstico e intervenção junto às direções de cada hospital, para recuperação da rede
As ações para evitar o colapso do serviço envolveram o aumento de profissionais, o que deve ser resolvido com a edição de uma Medida Provisória para prorrogação de 1,7 mil contratos temporários. Outros mil profissionais também foram convocados.
Segundo o Ministério, também houve esforço da infraestrutura com recebimento de doações de equipamentos do Institutos Nacionais e insumos da Secretaria Municipal de Saúde, Ebserh e da Fiocruz. Também foi realizado um diagnóstico detalhado da situação de cada unidade e revisão de todos os contratos.
O trabalho do Comitê Gestor foi prorrogado por mais 30 dias e também foi criado um Núcleo de Apoio Interinstitucional, que inclui a rede Ebserh, o Grupo Hospitalar Conceição e a Fiocruz, esses dois últimos vinculados ao Ministério da Saúde.
O Comitê ainda definiu um cronograma de reestruturação das unidades para encontrar uma perspectiva de solução sustentável para a gestão dos seis hospitais federais no Rio de Janeiro.
ENTENDA – A corrupção nas unidades de saúde federais do Rio apareceu na mídia, com a exoneração do diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Alexandre Telles, indicado pelo deputado Federal Dimas Gadelha (PT-RJ), após uma investigação do Fantástico (Rede Globo).
Desde maio de 2023, denúncias sobre corrupção nos Hospitais Federais têm sido veiculadas pelo RJTV e RJ2 da TV Globo, apontando para a nomeação de pessoas ligadas ao deputado Dimas Gadelha (PT) em cargos-chave, muitos deles de São Gonçalo, além da nomeação do advogado particular de Dimas, Gildo Souza.
Além do favorecimento político, testemunhas relatam a instalação de uma porta acústica no gabinete do diretor Abel Martinez para representantes comerciais e fornecedores, exigindo pagamentos e criação de vagas dentro das empresas contratadas.
Também há influência política nos hospitais de Bom Sucesso e Andaraí, onde o médico Jefferson Antunes Gomes, ligado a Dimas Gadelha desde sua gestão na Secretaria de Saúde de São Gonçalo, ocupa um cargo importante.
Documentos revelaram que cinco pacientes morreram por falta de atendimento adequado no Hospital Federal de Bonsucesso, enquanto o Hospital do Andaraí enfrenta problemas como cirurgias suspensas, leitos fechados e o sumiço de equipamentos médicos valiosos, incluindo um tomógrafo de R$ 1 milhão e um raio-x de R$ 3 milhões.