O Ministério da Saúde se reúne hoje em Brasília para continuar os trabalhos do Comitê Gestor que administrará seis hospitais federais no Rio de Janeiro. Segundo a pasta, o órgão vai atuar por pelo menos 30 dias junto às direções de cada hospital, para recuperar e reestruturar as unidades depois de “anos de precarização” quando tinha à frente o diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Alexandre Telles, indicado pelo deputado Federal Dimas Gadelha (PT-RJ).
O Comitê Gestor vai ser dirigido pela Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (Saes), com representantes do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), assessorias, coordenações e secretarias do Ministério da Saúde. Um dos objetivos declarados é melhorar a governança e o diálogo entre servidores, sindicatos e gestores.
Todos os processos de aquisição de medicamentos e insumos e de contratação de obras foram centralizados no Ministério da Saúde. A medida foi tomada para aumentar o poder de negociação da pasta e garantir maior eficiência e controle na distribuição dos insumos, o que significa evitar falhas no abastecimento e desperdícios.
Segundo o ministério, outras iniciativas estão em curso para melhoria do sistema, que ocorrem desde o início de 2023. Entre as melhorias, o ministério citada a reabertura de mais de 300 leitos; inauguração do Hospital Dia, no Hospital Federal do Andaraí (HFA), na zona norte da cidade; novo setor de oncologia, sala de radiografia digital, tomógrafo e cinco aparelhos de raio-x portáteis no Hospital do Andaraí; e contratação de 294 profissionais, entre médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas e assistentes sociais. A pasta lembra ainda que um edital para 500 vagas temporárias nos hospitais federais está aberto.
Cristiane Gerardo, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Sindsprev/RJ), reclamou que a situação nos hospitais é dramática, “depois de anos de desmonte e sucateamento”. Ela cita como exemplo a situação do Hospital Cardoso Fontes, na Zona Oeste, que até então não teve a obra do telhado finalizada.
“Quando você tem uma chuva forte, inunda o hospital e paralisa todo o sistema de maquinário, os elevadores, inunda o almoxarifado, estraga o estoque de produtos. E depois os servidores são acusados de não terem responsabilidade sobre essas obras estruturais, de serem suspeitos e incompetentes”, disse Cristiane.
A dirigente sindical concorda com a centralização das compras dos hospitais, mas é contra a centralização da gestão administrativa. “Uma coisa é a grade de compra comum, que deve ser construída. Assim como articular os estoques das unidades, para evitar desperdícios e compras desnecessárias. Outra coisa é você acabar com a gestão dos hospitais. É transformar diretores em meros zeladores. Não tem evidência que justifique isso”, disse a sindicalista.
ENTENDA – A corrupção nas unidades de saúde federais do Rio apareceu na mídia, com a exoneração do diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), Alexandre Telles, indicado pelo deputado Federal Dimas Gadelha (PT-RJ), após uma investigação do Fantástico (Rede Globo).
Desde maio de 2023, denúncias sobre corrupção nos Hospitais Federais têm sido veiculadas pelo RJTV e RJ2 da TV Globo, apontando para a nomeação de pessoas ligadas ao deputado Dimas Gadelha (PT) em cargos-chave, muitos deles de São Gonçalo, além da nomeação do advogado particular de Dimas, Gildo Souza.
Além do favorecimento político, testemunhas relatam a instalação de uma porta acústica no gabinete do diretor Abel Martinez para representantes comerciais e fornecedores, exigindo pagamentos e criação de vagas dentro das empresas contratadas.
Também há influência política nos hospitais de Bom Sucesso e Andaraí, onde o médico Jefferson Antunes Gomes, ligado a Dimas desde sua gestão na Secretaria de Saúde de São Gonçalo, ocupa um cargo importante.
Documentos revelam que cinco pacientes morreram por falta de atendimento adequado no Hospital Federal de Bonsucesso, enquanto o Hospital do Andaraí enfrenta problemas como cirurgias suspensas, leitos fechados e o sumiço de equipamentos médicos valiosos, incluindo um tomógrafo de R$ 1 milhão e um raio-x de R$ 3 milhões.