Em vez de se concentrar nas questões cruciais que afetam a cidade, os candidatos nacionalizaram o debate, colocando em destaque a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro
O primeiro debate, na última quinta-feira (8/8), entre os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, promovido pela TV Bandeirantes, revelou uma dinâmica inesperada e preocupante.
Em vez de se concentrar nas questões cruciais que afetam a cidade, os candidatos nacionalizaram o debate, colocando em destaque a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Isso ocorreu em um contexto onde a população carioca enfrenta desafios cotidianos que exigem atenção e soluções urgentes.
Os candidatos presentes foram Eduardo Paes (PSD), Alexandre Ramagem (PL), Marcelo Queiroz (PP), Rodrigo Amorim (União Brasil) e Tarcísio Motta (PSOL). Desde o início, ficou evidente que os bolsonaristas, Ramagem e Amorim, tinham uma estratégia clara de associar Paes a Lula, procurando desgastar sua imagem e desviar o foco das pautas locais. O debate logo se tornou uma arena de ataques, onde o atual prefeito e candidato à reeleição foi chamado de “soldado de Lula” e “pai da mentira”.
“Esse tipo de retórica, longe de abordar as questões práticas da gestão municipal, destaca uma estratégia que visa desconstruir a figura do adversário por meio de argumentos políticos que ignoram o contexto urbano e social do Rio”, afirmou o sociólogo, cientista político e professor da UFRJ, Paulo Baía.
Segundo ele, a escassez de propostas concretas para a cidade, especialmente na discussão sobre segurança pública, foi um dos pontos críticos que deixou a desejada clareza sobre políticas específicas em segundo plano.
“Quando o tema segurança surgiu, a conversa rapidamente se desviou para a responsabilidade do governo estadual e federal, distanciando-se das políticas diretas que a prefeitura pode implementar”, destacou ele.
O embate entre Paes e Ramagem sobre segurança pública evidenciou esse desvio. Enquanto Paes salientou que a responsabilidade recai principalmente sobre o governo do Estado, estabelecendo o cenário atual como responsabilidade dos governadores anteriores e do atual, Ramagem insistiu na falta de credibilidade da Guarda Municipal, questionando o papel da prefeitura em um tema tão vital para a população.
“A capacidade de gerir e implementar propostas eficazes para a segurança da cidade deveria ser um foco central, mas foi mais uma vez eclipsada por questões que extrapolam a esfera municipal”, disse Baía.
Além disso, a provocação de Marcelo Queiroz a Paes sobre sua permanência na prefeitura se juntou ao espetáculo de desconforto entre os candidatos. A pergunta levantou dúvidas sobre a estabilidade do atual prefeito, que se defendeu afirmando seu compromisso em permanecer durante o mandato caso reeleito.
Segundo os expectadores, este tipo de interação, embora reveladora das tensões entre os candidatos, não trouxe à luz soluções para os problemas urgentes da cidade, como transporte, saúde e educação.
Outro embate notável foi entre Rodrigo Amorim e Tarcísio Motta. Amorim desferiu ataques diretos, chamando o Psol de “partido da droga”, o que levou Motta a reivindicar um direito de resposta. Em sua réplica, Motta defendeu um tratamento de saúde pública para a questão das drogas, afastando-se do discurso penalizador tradicional. Essa dinâmica, no entanto, mais uma vez ilustrou como os ataques e defesas estavam mais preocupados em favorecer narrativas partidárias do que em promover um diálogo produtivo sobre as realidades cariocas.
A previsão baseada na pesquisa Quaest, que mostrou Eduardo Paes liderando a corrida eleitoral com 49% das intenções de voto, tem desdobramentos importantes. O crescente apoio à sua gestão, com uma avaliação positiva aumentando de 35% para 45%, destaca que os eleitores estão cientes das demandas e realidades da cidade e se inclinam à continuidade de uma gestão que, dentro da percepção popular, começa a dar certo.
“Em suma, o primeiro debate entre os candidatos à prefeitura do Rio refletiu uma era de crescente polarização política, onde as questões locais foram ofuscadas por antagonismos ideológicos entre Lula e Bolsonaro”, afirmou o especialista.
De acordo com ele, a ausência de uma discussão aprofundada sobre soluções práticas para os problemas do dia a dia da capital fluminense lança inequivocamente um sinal preocupante: é imperativo que os eleitores e candidatos reorientem suas prioridades e voltem a atenção para os desafios que realmente afetam os cariocas.
“O desafio agora reside em transformar essa intensa polarização em um debate que resgate a urgência das pautas locais e ofereça uma visão clara para o futuro da cidade”, concluiu Baía.
Fonte: Agenda do Poder
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